quarta-feira, 26 de maio de 2010

As águas da transposição não serão de graça


Não se pode nem de longe negar a importância histórica de uma obra como a transposição das águas do Rio São Francisco para o Nordeste. E, por tabela, a ousadia do governo Lula em quebrar a não menos histórica resistência política (e preconceituosa) que barrava a obra.
Nem muito menos se pode diminuir a relevância de encontros como o que foi registrado em Monteiro na noite desta terça, quando se debateu o estágio e os efeitos das obras do São Francisco o cariri paraibano.
Tais encontros são capazes de dizer à parte da sociedade o ritmo do projeto. É neles que podemos encontrar, reunidos num só ambiente, técnicos, especialistas e torcedores do projeto, verdadeiros heróis que marcarão, cada um ao seu modo, seus nomes na história da transposição.
Claro que também é possível encontrar quem queira se beneficiar eleitoralmente do projeto. Natural em época de campanha. Mas isso não afeta o objetivo central que é de manter viva a chama da transposição, regularmente abalada por restrições ambientais, decisões judiciais e má intenção política.
O que mais surpreende, nesses encontros, no entanto, é que ninguém – nem técnicos, nem especialistas, nem políticos, nem religiosos – tem a coragem de dizer abertamente que a água transportada do Rio São Francisco será paga. Isso mesmo: paga.
Ninguém usará um milímetro sequer se não for desembolsar dinheiro para pagar a conta. Em valores mais econômicos, em alguns casos, mas nada de graça.
Será que os 12 milhões de beneficiados com a transposição sabem disso?
Tem muito pequeno agricultor por aí que acha que vai poder fazer uma ligaçãozinha pra sua plantação e usar imoderadamente a água do Velho Chico sem que ninguém venha cobrar por isso. Essa é que é a verdade.
A falta de clareza e o silêncio sobre o uso na prático da água que virá tem gerado um mito. De que a transposição será um presente dado de graça para quem sempre teve um preço a pagar pela vida.

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